segunda-feira, 27 de abril de 2009

Clodovil em Minha Vida por Fabio Arcanjo

2005 - Clodovil e Fábio Arcanjo no extinto programa "A Casa é Sua" REDE TV



Velório de Clodovil em SP
Foto: UOL Noticias

quarta-feira 18 de março de 2009

Velório de Clodovil em SP
Foto: UOL Noticias
Arte: Paulo Martinelli
quarta-feira 18 de março de 2009
Amigos e fãs no velório do Amigo Clodovil na Assembleia Legislativa de São Paulo, na quarta-feira 18 de março de 2009
Foto: Site Contigo

O primeiro encontro

Eu, minha assistente de culinária e amiga Joana Campos estávamos na cozinha de apoio do programa “MULHERES” da TV Gazeta/SP, quando Clodovil entrou e ficou me observando a decorar uma “Terrine de pé-de-mole”.

Disse a ele boa tarde.

Em tom baixo e melancólico ele me retribuiu o cumprimento e continuei com meu trabalho.

Assim que a assistente da cozinha de apoio da emissora entrou, Clodovil disse:

“— Cadê a ‘porra’ do filtro de café? Será que vou ter que trazê-lo de casa?”

Em seguida saiu irritadíssimo, levando um vaso pertencente à emissora e dizendo que colocaria flores para levá-lo para casa e que depois devolveria.

Percebi a aflição da funcionária em não ter coragem de dizer a ele que não poderia levar o material sem a prévia autorização da emissora.

Presenciando aquele tratamento inadequado, pois ninguém tem nada a ver com suas intempéries, lembrei-me das dezenas de pessoas que sentiam-se temerosas em participar do programa que ele apresentava e eu estava prestes a entrar no ar.

Já no estúdio conduzindo o programa, AO VIVO, Clodovil estava trajando um avental de cozinha com seu nome, apresentou-me aos telespectadores dizendo:

" -- O rapaz que vai fazer essa culinária tem uma cara de esperto e despachado. Fábio Arcanjo, você sabe que quando eu olhei para você lá na cozinha eu vi que você era ’bom de taco’, a gente olha e sabe quando a pessoa trabalha direitinho mesmo.”
Alguns meses depois...
Estava em casa numa manhã de domingo, quando meu celular tocou, era uma ligação de fixo com prefixo (12), um cidadão falando gracinhas e no mesmo instante desliguei, pois parecia um trote. Novamente, o celular tocou e eu sem paciência mandei o cidadão para “o raio que o parta”, então ele se identificou:

“— Fábio é o Clodovil!”

Não conhecendo a voz retruquei:

“—Aqui é o Sílvio Santos!” depois risos...

Fomos conversando (não imaginava que estava falando com uma pessoa que marcaria a minha vida).
Clodovil me disse que estava tendo problemas com funcionários. Solicitou-me a gentileza de indicar um casal jovem sem filhos para ser caseiro em sua mansão paradisíaca localizada na cidade de Ubatuba litoral norte de São Paulo, ele sabia que eu trabalhava na Escola de Hotelaria e Turismo de São Paulo ministrando cursos rápidos para chefes de cozinha, domésticas, proprietários de bares, pizzaria, restaurantes e desempregados em busca de uma nova profissão.

Durante a semana Maria Luiza, uma amiga cartomante, ligou-me e disse que havia feito algumas previsões para Clodovil. No sábado, quando entramos em contato, passei-lhe o recado.

Clodovil me telefonou novamente, enquanto eu me queixava do calor ele me dizia que estava tomando uma cerveja e observando de sua mansão o ludibriante panorama do mar, mas na realidade ele estava muito triste e queria referências sobre a cartomante que lhe havia “despido” em suas previsões. Por conta disso e sabendo de suas dificuldades financeiras, durante algum tempo Maria Luiza jogava as cartas sem nenhum custo.

Nossas conversas se tornaram rotina, certa vez falando sobre numerologia ele esboçou a vontade de fazer um mapa numerológico. Duas semanas depois , em um final de tarde estava eu (com uma caixa de bombons suíços nas mãos) e minha amiga Sonia que faz mapas numerológicos , por’hobby’, em seu apartamento na Av. República do Líbano - Ibirapuera/ SP.

Clodovil nos recebeu com um ar de tristeza, mas com fino trato. Sentado em uma poltrona com o abajur ligado, pois o restante das luzes do apartamento estava apagado, fez questão que eu fosse testemunha de tudo o que a numeróloga Sonia expunha (com muito receio) o que os números diziam sobre ele.

-Reticente sobre uma sugestão de troca de letra em seu nome que segundo a “numeróloga”, ajustaria definitivamente sua vida, ele preferiu apresentar o pequeno apartamento e fazer um delicioso café. Gostou de muita coisa dita, mas assim como ele creio que a “numeróloga” mesmo com muito tato, não teve coragem de desbravar a verdade dos números da vida dele. Ainda bem que ele me deu uma xérox de seu mapa, mas mesmo assim ficou grato.
Estávamos de táxi, ele nos pediu uma carona até a Rua Pamplona.

Nosso laço de Amizade

No dia seguinte, Clodovil me solicitou que fosse ao seu apartamento passar à tarde. Quando cheguei lá, atendeu-me com uma camiseta furada, calça esgarçada, abatido, mas o aroma do seu perfume pairava no ar.
Ele me mostrou alguns livros, conversamos sobre muitos assuntos, tais como: a TV brasileira e a falta de oportunidade para os que trabalham de pé, os calotes que levou, as contas atrasadas, as pessoas que desapareceram naquele momento difícil que estava atravessando. Eu também estava desempregado por isso compartilhava de sua dor. Foi assim durante semanas, às vezes ele me pedia para que eu preparasse um café, enquanto papeávamos.
A melancolia de Clodovil parecia não ter fim. Fazia-se tarde e em uma das despedidas senti um forte aperto no meu coração.
Alguns dias depois ele me relatou que a pug Castanhola havia evitado seu suicídio através de uma visão. Em seu apartamento dialogamos sobre a sua atitude, momentaneamente, covarde.
Uma vez, curioso, perguntei-lhe por que me recebia em seu apartamento. Neste exato momento o casal de pugs Castanhola e Antonio estava no meu colo e ele disse apontando-os:

“— Eles sabem quando a pessoa é boa! Jamais dormiriam ou brincariam com você se não fosse assim.”

Em seguida desconversou dizendo:

“—Arcanjo se quiser vai fazer um chá, não tem pó de café.”

Até então, foi a primeira pessoa a me chamar de Arcanjo.

Valia a pena descer a pé a Avenida Paulista até chegar ao apartamento de Clodovil. Eu também estava sem dinheiro para nada, inclusive, nem para pegar um ônibus. Como Clodovil era perdulário preferia compra champanhe a ter que comprar comida. Um dia com a geladeira vazia ele me disse:

“—Meu almoço é pão com o doce de bananas que sua mãe sempre me manda.”

Clodovil sempre teve carinho por minha mãe, às vezes ligava para ela em agradecimento a centenas de votos que ela conseguiu para sua campanha Deputado Federal.

Em um inicio de noite saindo com Clodovil de seu apartamento caminhando pela rua rumo ao “Bingo Pamplona” (já que ele ia fazer presença), disse-me que tinha apenas R$ 20,00 (vinte reais) dezenas de contas para pagar e estava disposto a apostar. Paramos de andar e disse a ele:

“— Clodovil, tive um sonho que você ganhou um bom dinheiro. E como acreditamos que nada acontece por acaso, faça o que seu coração está sentindo.”

Voltamos a andar, chegamos a um ponto de táxi e nos despedimos. Por volta das 00h20min. o telefone tocou era ele felicíssimo por ter ganhado, se não me engano R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais).

Clodovil estava fazendo aulas de canto com a intenção de gravar um CD chamado: “Clodovil Canta Eles” e posteriormente “Clodovil Canta Elas”.

Quantas tardes ele cantou para mim, tanto é que o presenteei com o CD da Nana Caymmi – “Desejo” no qual ele me oferecia e cantava a faixa 10: “Tarde Triste” (que veio na contra capa e encarte com outro nome) e ele chegou ao ponto de ligar para o Rio de Janeiro falar com Nana e comentar sobre isso.

Em outro encontro, Clodovil havia dito que devia a meses o aluguel e condomínio e que tinha uma vizinha que iria casar e gostaria de ter o vestido feito por ele,mas ele não estava disposto a voltar a costurar. Então eu disse a ele:

“— Saia do palco, faça esse vestido e pague suas dívidas”.

Em seguida chegou o Mauricio Petiz, amigo de Clodovil e secretário particular, na época em que foi solicitada a confecção do vestido. Mauricio estava cuidando de vários projetos de Clodovil entre eles as palestras pelo Brasil , com contexto sobre a valorização da mulher. Lembro-me que quando ele soube o quanto Lilian Witte Fibe cobrava e quanto sugeriram para que ele cobrasse, nossa! Clodovil ficou uma fera.

Naquele momento chegou Aparecida Helena outra amiga de Clodovil. A florista trouxe arranjos para decorar o apartamento, pois ele daria uma entrevista mais tarde para uma revista.

Mudanças são sempre bem vindas

Certa vez Clodovil me chamou para ir à academia, que ficava ao lado de seu apartamento, para fazer exames. Lá pediu à médica Dra.Carmen Lúcia de Assis Madruga que eu ficasse na sala ao lado dele, foi quando descobri durante a consulta que ele já tomava remédios controlados para pressão e próstata. Fomos avisados que havia chegado seu segurança. Eu e Clodovil tiramos fotos para nota na Revista TV Brasil e voltamos os três caminhando para seu apartamento.

Assim que chegamos, logo em seguida chegou o leiloeiro Agnello Leilões para acertar os detalhes do leilão da mansão de Ubatuba litoral norte de São Paulo. Em um determinado ponto da conversa a lâmpada do abajur queimou e Clodovil disse:
“— A indústria faz lâmpadas para queimar e não para durar anos.”

E eu respondi:

“— Se fosse assim teria muito mais gente desempregada do que lâmpadas queimadas.”

Ele me olhou com um olhar firme e disse:

“– Se eu receber uma indenização do ... (prefiro não publicar) já sei quem vou ajudar.”

Já era tarde da noite, misteriosamente, no exato momento em que ele falou o nome de quem não publiquei um quadro pesado que estava na parede caiu. Levamos um susto e logo pensamos nos pugs, mas graças a Deus nada aconteceu.

Presencie uma cena que partiu meu coração. Renato, o copeiro, saía às 18h mas Clodovil pediu que ele permanecesse mais um pouco, chegou um certo momento Renato bem educado pediu licença e disse que iria pois estava tarde e no dia seguinte teria que estar no apartamento às 6h, foi quando Clodovil lhe autorizou e pediu, em nossa frente, que mostrasse sua bolsa.

Passado alguns dias Maria Luiza, a cartomante, que nesta altura era chamada carinhosamente por ele de “Madame Louize”, disse a ele e que me confidenciou que voltaria para a TV em menos de 2 meses.

Dito e feito! Tanto é que dias depois ele me disse:

“— Arcanjo para onde eu for você irá comigo.”

Ele foi apresentar “A Casa é Sua”, extinto programa da Rede TV, só depois de um longo tempo fui para o programa.

Quando novamente ele ficou desempregado, ligava-me em casa, (eu estava em Maceió/ AL), falava com minha mãe solicitando minha volta, que lá não tinha como dar certo e infelizmente meu trabalho naquele momento não vingou.

Estava ainda em maceió, quando fiquei sabendo que ele iria operar da próstata. Quando voltei da viagem de trabalho, uma das primeiras coisas que fiz foi entrar em contato com ele, que me convidou para ir a sua mansão.

Com Clodovil presenciei coisas tristes e alegres como ir ao mercado, ao bingo, ...quantas vezes me convidou para ir ao seu apartamento comer algo que ele havia preparado, afinal a Cecília de Ubatuba sabendo das dificuldades financeiras dele mandava peixes frescos, limpos e embalados a vácuo. Algo impecável e delicioso.
Velório
Cheguei com minha irmã de coração e assessora Kátia Xisto (que não o conhecia) na Assembléia Legislativa de São Paulo para prestar minha última homenagem a Clodovil.

Fomos Recebidos, gentilmente, por França (assessor de Clodovil) que nos levou a uma sala reservada para os amigos, artistas e políticos.

Na sala me deparei com o Padre Juarez de Castro que iria presidir a última bênção. Conversamos, pois meu sentimento naquele momento era o mesmo de quando somos crianças e nos perdemos em uma fila de nossos pais, afinal durante poucos anos de convivência direta e indireta com Clodovil ambos trocamos “macetes” e malícias para “sobreviver”.
Quando eu apresentava o programa “Noivos na TV” um amigo em comum com o Padre Juarez havia me passado seu número de telefone para eu entrevistá-lo no programa. Nunca liguei, porque achava que tendo uma agenda cheia não aceitaria meu convite, o Padre Juarez quando soube disso chamou minha atenção na frente de seu assessor e da Kátia.
Logo em seguida chegou Klaus Agabiti (Amigo e assessor do Deputado), que estava sedado a ponto de no primeiro momento não me reconhecer e a assessora Marli Pó que eu conhecia apenas por telefone com quem eu mantinha contato desde a posse de Clodovil como Deputado (PTC-SP).
Marli me colocou a par de tudo o que havia acontecido inclusive da falta de respeito do Deputado Ciro Moura, Presidente Estadual do Partido Trabalhista Cristão (PTC) que pediu a cassação de Clodovil, alegando infidelidade partidária contra o Deputado Clodovil (PR-SP). Ciro Moura foi impedido de ficar perto do caixão pela advogada de Clodovil Dra. Maria Hebe de Queiroz.
Descemos com o Padre Juarez aparamentado para a “última bênção”, fiquei em frente ao caixão, Kátia atrás de mim, em um determinado momento o Padre Juarez deixou livre para quem sentisse vontade de expressar alguma palavra de adeus. Vi político fazer daquele velório um palanque para futuros votos.
Fomos surpreendidos por um pastor que se manifestou cantando um hino, aparentemente, em “Francês”. A pedido de Marli que estava aos prantos, delicadamente a policia o retirou de cena.
Na hora de fechar o caixão houve tumulto, o cordão que nos separava dos fãs foi rompido pela multidão que queria tocar pela primeira e última vez em Clodovil. Quase que o caixão caiu, a policia teve que intervir com aquela falta popularesca de respeito (tudo que o Clodovil não queria). Logo em seguida o caixão partiu com Mauricio Petiz (com quem não consegui falar) segurando em uma das alças e chorando como criança. Naquele exato momento decidi não ir ao sepultamento.

Clodovil pra mim

Na imprensa li coisas escritas por gente famosa (qualquer um pode ser e por qualquer motivo) dando graças a Deus pela morte de Clodovil. Faço uma pergunta para você que lê este breve resumo de “Clodovil em minha Vida”. Será que estas pessoas têm competência para se estabelecer na vida com os dons e talentos emprestados por Deus?
Ao contrário do que dizem (sabe Deus o porquê) certa vez ele me disse que tem familiares em Elizário, Catanduva e Floral, interior de SP cerca de 8 primos e alguns tios.
Doce, amargo, azedo, invejoso, ácido, elegante, sagaz (nossa! seriam tantos adjetivos) Clodovil nunca foi “Santo”. Chegou e permaneceu no sucesso “a duras penas”, aos poucos, mas leia-se AMIGOS que ele tem, estavam naquele velório ao lado de seu corpo.
Gente simples que tinha um sorriso ou uma palavra amiga para dar a ele, passasse o tempo que fosse. Gente que ele pegava dinheiro emprestado e não pagava porque não pagavam a ele. Gente que ele esquecia e só lembrava quando estava longe dos holofotes ou depressivo.
Não precisei aparecer na TV ao lado do corpo de Clodovil , ninguém pode me tirar o prestígio que a vida me deu ao conhecê-lo e vivermos “o brevemente”.
O que me consola é crer que a vida é eterna e um dia iremos nos reencontrar.

Correção ortográfica: Professora Clara Deodoro

2004 - Clodovil e Fábio Arcanjo no extinto "Acasa é Sua" REDE TV

2001 - Fábio Arcanjo e Clodovil no "Mulheres" TV GAZETA

2005 - Clodovil e Fábio Arcanjo no extinto "A Casa é Sua" REDE TV
2003 - Arcanjo como era chamado por Clodovil, o acompanhou na academia para fazer avaliação médica para pratica de exercícios físicos

2004 - Clodovil e Fábio Arcanjo no extinto "A Casa é Sua" REDE TV

2005 - Clodovil e Fábio Arcanjo no extinto "A Casa é Sua" REDE TV


2004 - Clodovil e Fábio Arcanjo no extinto "A Casa é Sua" REDE TV

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2004 - Fábio Arcanjo e Clodovil no extinto "A Casa é Sua" REDE TV

2005 - Clodovil e Fábio Arcanjo no extinto "A Casa é Sua" REDE TV

2002 - Fábio Arcanjo e Clodovil no "Mulheres" TV GAZETA